quarta-feira, 27 de maio de 2009

O PAPEL DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO


O PAPEL DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO.


Ao analisarmos a história da educação, a criança há um tempo atrás, era considerada como um mini-adulto; usava roupas de adulto, não podia ter comportamentos de ludicidade, de imaginário infantil; muitas participavam de orgias, iam acompanhadas de adultos a locais com consumo de álcool e eram obrigadas a viver e trabalhar como adultos.
Nas escolas as crianças eram tratadas pelos professores como Senhores e Senhoras. As meninas desde pequenas iam á escola para aprender a bordar e lidar com os trabalhos do lar, e os meninos aprendiam diversos trabalhos do homem adulto.
Com a Revolução industrial, muita das crianças deixaram de estudar para trabalhar em longas jornadas nas indústrias, deixando para trás toda sua infância.
As escolas e os professores da época proibiam jogos e brincadeiras em sala de aula e no espaço escolar.
Passado algum tempo, o jogo foi permitido, porém por um longo tempo, o jogo foi considerado por pais e educadores, como algo que não trazia qualquer contribuição para as crianças.

Ainda hoje, percebo por experiência própria, que muitos pais e educadores resistem aos jogos na área da educação, pois temem que os alunos fiquem defasados no conteúdo.

Atualmente com estudos recentes sobre desenvolvimento infantil, segundo o Professor da USP, Manoel Oriosvaldo de Moura (1992, p.47), o jogo é considerado como um importante recurso no processo de ensino-aprendizagem.

Em sua pesquisa ele nos diz::
“Ao optar pelo jogo como estratégia de ensino, o professor o faz com a intenção: propiciar a aprendizagem .E ao fazer isso tem como propósito o ensino de um conteúdo ou de uma habilidade. Dessa forma o jogo escolhido deverá permitir o cumprimento deste objetivo.”

Hoje as pesquisas apontam para a relevância do jogo nas escolas como papel fundamental para a construção do pensamento da criança, para aquisição do raciocínio lógico-matemático,e para a resolução de problemas, inclusive para melhorar a aquisição da leitura e da escrita.
Segundo os PCNs e RCNs, o jogo utilizado como recurso didático tem um papel importante no processo do ensino e aprendizagem, pois a ludicidade é um elemento importante no processo de aprendizagem do aluno, permite diminuir bloqueios e resgatar a prazer em aprender matemática , além de ajudar no exercício da análise e da reflexão do conteúdo matemático na sala de aula, voltado para o cotidiano.
Isso acontece devido à necessidade de superar os desafios dos jogos, fazendo com que as crianças criem estratégias, levantem hipóteses e busquem soluções para resoluções de problemas.

Ao perceber a importância do lúdico no ensino da matemática, como professora do ensino fundamental, resolvi criar um jogo, após fazer um levantamento sobre as maiores dificuldades dos alunos em sala de aula no que se refere aos conteúdos de matemática. Planejei um jogo que pudesse trabalhar com várias situações das quatro operações matemáticas e ao mesmo tempo pudesse trabalhar paralelamente outros conteúdos e situações onde envolvam a matemática e possibilite uma reflexão e análise sobre as dificuldades do aluno.

O nome do jogo é “Equilibrando as Operações”, pois permite o equilíbrio e a exploração de conceitos e conteúdos matemáticos como: Operação (mais,menos,vezes e dividir), estabelece relações entre a necessidade de contar, medir, calcular, comparar, permite utilização de estratégias e busca de soluções para alcançar a resolução dos problemas, pode ser facilmente adaptável a vários conteúdos e momentos de aprendizagem do aluno, além de ter a carta para descontrair (uma espécie de mico) que é muito divertida.

Procurei integrar o jogo a situações que levassem ao exercício da análise e da reflexão do conteúdo matemático na sala de aula e voltado para o cotidiano.
Desde a formulação do jogo, o objetivo era de verificar se a aplicação do jogo como recurso didático, poderia ajudar os alunos a trabalhar com as operações fundamentais, como adição, subtração, multiplicação e divisão.
Durante todo o processo o objetivo do jogo “Equilibrando as Operações” foi atingido, as crianças conseguiram por meio do jogo, analisar e refletir sobre o conteúdo matemático, proporcionou agilidade no raciocínio lógico e dedutivo, devido à competição do jogo; as crianças sentiram-se desafiadas a aprender e buscar estratégias e várias hipóteses para chegar ao resultado em um menor tempo possível.
Ao término do jogo, foi solicitado o relato dos alunos e muitos falaram sobre o respeito ao outro, à vontade de ajudar o amiguinho em dificuldade, e a troca de experiências para chegar ao resultado.

Portanto, os jogos e brincadeiras, além da relevância na construção do conhecimento matemático, propiciam também uma visão solidária de relações humanas, a superação do individualismo, a confiança em si e no outro e a percepção de que as pessoas se complementam e dependem umas das outras.

Vivemos tempos de medo, de desconfiança de desumanização. Tempos em que a humanidade leva em consideração , o conhecimento da matemática para adquirir o poder, a arrogância e a prepotência. Sonhamos com um mundo melhor, mais harmonioso, sem guerras, sem fome, sem cobiça pelas riquezas alheias,sem prejuízo ao meio ambiente, com mais solidariedade, mais tolerância,respeito ao outro, respeito à diferença, mais ética e senso de humanidade. A criança desde o início da alfabetização deve ter conhecimento da realidade do mundo de hoje, e desde cedo deve aprender a resolver conflitos através do diálogo.O jogo poderá ser utilizado como recurso para esse fim.

Por isso a importância de ensinar os alunos desde cedo a tolerar, a dialogar, a respeitar, e verificamos que isso é possível através dos jogos e brincadeiras entre as crianças. A educação sozinha não transformará a sociedade, porém tem um papel bem relevante neste processo.

O livro Pedagogia do Diálogo e do Conflito do autor e professor Paulo Freire nos dá vários ensinamentos sobre a importância do diálogo e da tolerância, e mostra a preocupação maior com a ética, e com o respeito ao outro. Esse ensinamento o alfabetizador deve passar as crianças, além dos conteúdos de matemática, para que cresçam cidadãos críticos; e os jogos ensinam, pois tem regras, tem normas de direito e deveres que todos jogadores devem cumprir para chegar ao final do jogo.

FREIRE (2006, p.128) comenta:
“O alfabetizador tem muita possibilidade de trabalhar em favor da produção da cidadania. Para isso, é preciso que o alfabetizador, esteja consciente de que está também deveria ser uma tarefa dele, além da própria alfabetização”.

A presença de jogos e brincadeiras nas escolas, proporciona um aprender realmente significativo, desde a aprendizagem de conteúdos matemáticos de uma maneira agradável e lúdica, até a aprendizagem do senso de humanidade, ao qual o aluno utilizará em seu cotidiano para o resto de sua vida. Bem diferente das escolas que no decorrer da história da educação, utilizavam um aprendizado mecânico, repetitivo e fora da realidade do aluno.
È uma nova era e uma nova geração, que pode ficar conhecida como a geração que literalmente “Aprendeu brincando”.



Maria Luiza de Freitas

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